A Primeira vez que se tratou a Síndrome de Burnout no Uruguai foi em um Seminário realizado pela então Escola de Negociação – o antigo nome do Laboratório de Soft Skills – em uma data que já pode ser considerada um tanto remota. Corria o ano de 2007, quando tratamos pela primeira vez o tema. Foi um Seminário, onde a maior parte dos participantes eram psicólogos e responsáveis de recursos humanos. Para o Uruguai, era uma novidade; para nós, o produto de uma de nossas pesquisas de antecipação. Por sinal, não havíamos descoberto o tema, falava-se sobre ele nos Estados Unidos já há algum tempo, mas não tinha sido incorporado como fizemos nós, como uma questão que precisava ser tratada sistematicamente pelos responsáveis por Recursos Humanos, sendo um problema que deveríamos detectar precocemente em nossos colaboradores e, em particular, cuidar do ambiente de trabalho para manter um clima que, hoje, é um tema essencial nas empresas, onde até questões curiosas, como os “gerentes de felicidade”, foram incluídas. Por sinal, antes da “felicidade”, deve-se preocupar mais com os temas de clima interno e com o conjunto de problemas que existem dentro das empresas. Por diversas circunstâncias, em diferentes trabalhos de análise e consultoria, observamos vários casos de burnout em empresas, alguns extremamente graves. O pior dessa visão é que as pessoas responsáveis – é fácil falar sobre “as empresas” – parecem não ter percebido a situação, o que é pessoal e profissionalmente muito grave.
Falemos agora do fenômeno, que é o que nos interessa neste artigo do blog.
O que é o burnout, as causas pelas quais ele aparece e quais são suas consequências:
A base do burnout é o estresse crônico que gera esgotamento mental. É um processo que começa com sintomas sutis e pode se agravar se não for detectado a tempo (e, em muitas ocasiões, não se consegue fazer isso, seja por inexperiência ou por falta de atenção ao ponto). É uma responsabilidade coletiva, mas, em particular, dos responsáveis pelo capital humano, realizar uma detecção precoce de sua aparição.
O síndrome de burnout, ou esgotamento profissional, é um transtorno provocado pelo estresse crônico que surge do excesso de tensões no trabalho. Esse processo, que aparece de forma gradual, não apenas provoca desânimo e apatia, o estresse também faz com que as pessoas se tornem mais suscetíveis a contrair doenças, pois diminui a resposta do sistema imunológico.
Felizmente, aos poucos, a saúde mental deixou de ser um tipo de tabu – aliás, a pandemia de Covid-19 e, cada vez mais, várias pessoas públicas expressam em público problemas e dificuldades que antes eram ocultadas. Não era algo muito conhecido, e muitas pessoas achavam que isso era um sintoma que as expunha a um tipo de menosprezo, tornando-as candidatas a serem o “estranho(a)” da empresa e o grande candidato ou candidata a ser o futuro desempregado. Essas situações retroalimentam a situação e, sem dúvida, a pioram. Em alguns casos, há situações de bullying mais ou menos disfarçado, e entra-se em uma espiral da qual é praticamente impossível retornar.
O síndrome de burnout foi reconhecido em 2019 como um transtorno mental na Classificação Internacional de Doenças (CID) elaborada pela Organização Mundial da Saúde. A Organização Mundial da Saúde o descreve como um síndrome resultante do estresse crônico no trabalho que não foi gerido com sucesso.
O esgotamento profissional é um tipo especial de estresse relacionado ao trabalho, um estado de exaustão física ou emocional que também implica a ausência de sensação de realização e perda da identidade pessoal, alertam os especialistas da Clínica Mayo dos EUA. Aliás, a Clínica Mayo não é uma instituição em que se possa pensar no que, no Rio da Prata, consideramos um “gerador e vendedor de fumaça”. Trata-se de uma das instituições mais importantes do mundo em pesquisa e busca de soluções de saúde.
Podemos perceber quando começa a se manifestar, mas é preciso prestar atenção:
Esse esgotamento é um processo gradual. Não acontece da noite para o dia, e embora os sinais e sintomas sejam sutis no começo, pioram com o tempo. Os efeitos negativos se estendem a todas as áreas da vida, incluindo o lar, o trabalho e a vida social.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o burnout se caracteriza por três sinais principais:
- Sensação de cansaço, fadiga ou exaustão de energia.
- Desapego mental em relação ao próprio trabalho ou sentimentos negativos em relação às tarefas realizadas.
- Diminuição do desempenho profissional.
Dessa forma, o burnout se caracteriza por três fatores: o esgotamento emocional, a despersonalização e a diminuição da capacidade de tomada de decisão ou de iniciativa.
Em primeiro lugar, o esgotamento emocional ocorre quando uma pessoa não reage emocionalmente como deveria. Quando uma pessoa está triste porque o acontecimento é triste, ela deve sentir tristeza, e quando há algo de alegre, deve rir, sentir alegria. Se não há essa consonância entre o que acontece e o que se vivencia, isso é chamado de esgotamento emocional, que é o que acontece quando a pessoa não está em empatia com a circunstância emocional que a rodeia.
Em segundo lugar, aparece a despersonalização. Isso acontece quando a pessoa com burnout começa a se distanciar dos outros ou do conjunto de pessoas com as quais se relaciona. Ela pode fazer seu trabalho até com eficiência, mas sem humanidade, sem contato com o outro, fazendo suas tarefas de maneira mecânica, toda sua atividade laboral e cotidiana se torna automática, não há trato humano. Além disso, desaparece o interesse pelas tarefas que realiza, quase como um “comportamento mecânico” e não humano frente às responsabilidades no trabalho.
O terceiro aspecto, relacionado aos anteriores, é uma forte diminuição do desempenho, pois a pessoa que sofre de esgotamento profissional perde sua capacidade de iniciativa, sua capacidade de tomada de decisão, por isso é considerado uma forma de estresse crônico.
Quais são as causas do esgotamento profissional?
Os especialistas da Clínica Mayo explicam que o burnout não ocorre por um único fator, mas por uma combinação de várias variáveis. Entre algumas das causas que causam o esgotamento:
Expectativas de trabalho pouco claras. Se não se tem claro o grau de autoridade real ou o que o supervisor ou outras pessoas esperam das tarefas, é provável que a pessoa não se sinta confortável no trabalho. Para alcançar o bem-estar emocional, converter a dor em sofrimento depende em boa medida de nós, e é isso que devemos evitar.
Falta de controle. A impossibilidade de influenciar as decisões que afetam seu trabalho, como, por exemplo, o horário, as tarefas ou a carga de trabalho, pode ocasionar esgotamento profissional. A falta dos recursos necessários para realizar as tarefas pode ser outra causa, que provoca além de exaustão, raiva e frustração.
Dinâmica disfuncional no local de trabalho. Talvez haja alguém no escritório ou no local de trabalho que nos assedia ou assedia nossos colegas, ou nos sentimos desautorizados pelos colegas, ou ainda, nosso chefe interfere desnecessariamente no trabalho que desenvolvemos. Tudo isso pode contribuir de forma decisiva para o estresse no trabalho.
Extremos de atividade. Quando um trabalho é monótono ou caótico, é necessário um esforço constante para manter a concentração, o que pode causar fadiga e esgotamento profissional.
Falta de apoio social. Se nos sentimos isolados no trabalho e/ou na vida pessoal, é possível que nos sintamos mais estressados.
Desequilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Se o seu trabalho exige tanto tempo e esforço que você não tem energia para passar com sua família e amigos, é possível que o esgotamento emocional chegue mais rapidamente.
Números e perspectivas de quem experimenta:
O custo do burnout é estimado em mais de 125 bilhões de dólares por ano nos Estados Unidos devido à perda de produtividade e ao aumento dos custos com saúde. Em nível global, estima-se que as perdas econômicas somem 322 bilhões de dólares por ano. Esses números demonstram que o burnout não tem apenas um impacto negativo na saúde mental dos trabalhadores, mas também na economia global.
Os empregados que sentem que seus chefes não estão comprometidos com seu bem-estar têm 70% mais chances de sofrer de burnout e reduzir sua produtividade em até 50%.
Um estudo da Gallup encontrou que 23% dos empregados experimentam burnout muito frequentemente ou sempre, enquanto 44% o experienciam às vezes. Isso significa que o burnout é um problema comum no ambiente de trabalho e afeta um grande número de trabalhadores.
Adicionalmente, outros estudos mostram que 3 de cada 5 empregados foram impactados de forma negativa no trabalho devido ao burnout, incluindo a falta de interesse, motivação e baixa energia.
2 de cada 3 trabalhadores a tempo completo já experimentaram burnout em algum momento de sua carreira, enquanto 86% dos trabalhadores remotos passaram por isso em suas funções.
Concluindo a visão, que já é bastante preocupante, 90% dos empregados que participaram de uma pesquisa indicaram que experimentaram algum tipo de esgotamento durante o último ano. Esta pesquisa foi conduzida pela consultoria Visier, que publicou um estudo extremamente interessante, intitulado “The Burnout Epidemic Report 2021/2022”.
Qual é o tratamento que pode ser aplicado ao burnout?
Existem uma série de hábitos e ações que podem ser aplicados à vida cotidiana e ajudam a diminuir o esgotamento mental, especialmente em seus estágios iniciais, quando os sintomas são sutis. No entanto, ao surgirem os sintomas, o recomendado é procurar uma consulta médica com um profissional da saúde, um especialista em saúde mental e/ou medicina do estresse.
A doutora Fernanda Giralt Font, especialista em estresse e burnout, fornece uma série de recomendações para enfrentar situações de tensão:
- Aprender a detectar quando estamos nos estressando. O estresse tem várias manifestações, que vão desde manifestações físicas (dores, contraturas, problemas digestivos, hipertensão e tensão muscular, entre outros), manifestações emocionais (como irritabilidade e insatisfação) e manifestações cognitivo-comportamentais (problemas de atenção e memória, bloqueios no desempenho e isolamento).
- Aprender a perceber quando as demandas excedem aquilo que acreditamos poder enfrentar e detectar essas manifestações é fundamental para agir a tempo.
- Modificar o ambiente, incluindo nele coisas que te relaxem e te façam sentir melhor, é uma excelente prática. Sair para comer com amigos, organizar um final de semana especial, e eliminar questões que fomentam o distress (não consumir bebidas com cafeína, não trabalhar na cama, por exemplo).
- Organizar o tempo pessoal, estabelecendo prioridades e separando o urgente do importante.
Para prevenir o burnout, é importante que as empresas e organizações se preocupem não apenas com o bem-estar de seus colaboradores, mas também tomem medidas preventivas. Como sempre, as medidas devem ser antecipatórias. É verdade que houve uma evolução importante nos últimos anos. Um estudo das consultorias internacionais Kronos e Future Workplace indica que 95% dos líderes de recursos humanos acreditam que o burnout é um problema chave em suas organizações e que elas devem prestar mais atenção à saúde mental de seus empregados, implementando os sistemas de prevenção mais adequados.
E, finalmente, se os sintomas avançarem, é necessário recorrer diretamente a profissionais específicos. Aliás, a empresa ou organização deve analisar a situação, tomar providências e, acima de tudo, verificar se se trata de uma situação isolada ou de situações que se repetem regularmente. Isso dará pistas muito importantes sobre como implementar as mudanças necessárias.
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