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Ho Chi Minh:O Sussurro que Derrotou os Impérios

Dr. Ricardo Petrissans Aguilar

5 abr, 2025

“Podem matar dez dos meus homens por cada um dos vossos que cair. Mas, no final, serão vocês que se cansarão primeiro.”
—Advertência de Ho Chi Minh aos franceses, 1946

O Nascimento de um fantasma revolucionário:
Sob o sol implacável da província de Nghe An, onde o ar cheira a arrozais queimados e terra úmida, um menino magro aprendeu cedo que a dignidade não se mendiga, se conquista. Nguyen Sinh Cung, que o mundo conheceria como Ho Chi Minh, cresceu vendo seu pai, um erudito confuciano, rejeitar os favores do governo colonial francês. Aquela atitude de orgulho silencioso ficou gravada em sua memória como um primeiro ato de resistência.

Aos vinte e um anos, com o nome de Ba e um punhado de sonhos revolucionários, embarcou como ajudante de cozinha em um navio francês. As cobertas encharcadas de salitre foram sua primeira universidade política. Nos cais de Marselha, onde os marinheiros coloniais cuspem nos asiáticos, descobriu que o racismo era o verdadeiro fundamento do império. Mas foi no Jardim de Aclimatação de Paris, onde os franceses exibiam vietnamitas em jaulas como animais exóticos, que sua raiva se transformou em propósito.

Sua juventude foi marcada por exílios sucessivos. Em Londres, onde trabalhou como ajudante de padeiro no Hotel Carlton, aprendeu a arte da discrição enquanto limpava os restos de bolos que os diplomatas britânicos deixavam em seus pratos. “Eu observava como discutiam o destino da Índia ou do Egito entre bocados de mousse au chocolat”, lembraria décadas depois. Essas conversas casuais ensinaram-lhe mais sobre o colonialismo do que todos os manifestos marxistas.

Em Paris, durante os anos 20, frequentava tanto os círculos literários de Montparnasse como as reuniões clandestinas dos revolucionários anticoloniais. Escrevia poemas de amor sob o pseudônimo de Nguyễn Ái Quốc, versos melancólicos sobre uma pátria que mal lembrava. Um dia, após ver a polícia francesa dispersar à força uma manifestação de argelinos, quebrou todos os seus escritos líricos. “Não há poesia possível enquanto houver humilhação”, escreveu em uma carta a um companheiro. Antes de se tornar o ícone revolucionário, Ho foi um fantasma que se deslizava pelas rachaduras do colonialismo. Em Paris, durante os anos 20, trabalhou como retocador fotográfico em um porão de Montmartre. Enquanto clareava sorrisos em retratos de famílias coloniais, aprendeu uma arte mais valiosa: como manipular imagens públicas. À noite, em cafés boêmios, discutia com Léon Blum sobre direitos trabalhistas enquanto escrevia poemas de amor para uma misteriosa “Marie” que provavelmente nunca existiu. Cada identidade que adotou — marinheiro, jornalista, jardineiro em um mosteiro budista — foi um disfarce meticuloso.

“Para enganar o tigre, primeiro você deve cheirar a grama e se mover como o vento entre os pastos”, confiou a um camarada em Canton, onde se passava por mestre de caligrafia enquanto organizava células revolucionárias.

Durante três décadas, Nguyen o Patriota — como assinava seus panfletos — se tornou um fantasma que percorreu as capitais do colonialismo. Em Versalhes, vestido com seu único terno decente, tentou entregar a Woodrow Wilson um memorial pela independência do Vietnã. Os guardas o afastaram com desdém, mas essa humilhação alimentou sua determinação. Em Moscou, onde estudou com os bolcheviques, rejeitou as doutrinas importadas: “O marxismo deve ser como nosso chapéu cônico — útil apenas se se adaptar à nossa cabeça”.

Quando declarou a independência do Vietnã em 1945, parado diante de uma multidão exaltada em Hanoi, citou com ironia deliberada a Declaração de Independência dos Estados Unidos. Era o primeiro movimento de um jogo de xadrez diplomático que duraria três décadas. Com os franceses, alternava entre o sorriso cortês e o punho de ferro. Assinou acordos que sabia que seriam violados, dando assim o pretexto moral para a guerra total. Quando seus guerrilheiros cercaram as tropas coloniais em Dien Bien Phu, proibiu os cânticos de vitória: “Os franceses não são nossos inimigos — disse aos seus generais —, são prisioneiros de sua própria arrogância”.

Seu verdadeiro gênio brilhou na arte de lidar com os gigantes comunistas. Recebeu armas soviéticas com uma mão e aceitou ajuda chinesa com a outra, mas nunca permitiu que nenhum deles ditasse seus movimentos. Quando os conselheiros russos insistiram em táticas convencionais, os enviou para missões burocráticas em Hanoi. As tropas chinesas foram estacionadas longe dos centros de poder. “Montar dois tigres ao mesmo tempo — confessou a seu círculo íntimo — exige saber qual está mais faminto”.

Os Anos Nômades: de Paris a Moscovo com um pseudónimo nos lábios:
Como Nguyen Ai Quoc (“Nguyen o Patriota”), se tornou um fantasma que espreitava as capitais coloniais: em 1919: Em Versalhes, tentou entregar a Woodrow Wilson uma petição pela independência vietnamita, como indicamos na seção anterior. Os guardas o expulsaram sem olhar o documento. Alguns anos depois, em 1923, em Moscovo, estudou com os bolcheviques, mas rejeitou o dogmatismo: “Para nós, o marxismo deve ser como um bom chapéu cônico: útil apenas se se adapta à cabeça vietnamita”. Em 1930, fundou o Partido Comunista Indochinês em Hong Kong, apenas para ser capturado pelos britânicos. Na prisão, escreveu poemas na parede com suas próprias fezes.
Capturado pelos britânicos em Hong Kong em 1931, passou dois anos em uma cela onde a umidade devorava seus pulmões. Foi lá que desenvolveu sua tática mais brilhante: a transformação da fraqueza em força. Aproveitando-se do fato de que os carcereiros consideravam insignificantes seus poemas escritos em pedaços de papel higiênico, os usava para codificar mensagens a outros prisioneiros. “Os imperialistas nunca entenderão que um homem acorrentado pode ser mais livre do que seus guardas”, sussurrou a um jovem nacionalista vietnamita antes de ser transferido. Sob a luz tênue da prisão britânica em Hong Kong, um homem esquelético rabiscava versos em pedaços de papel higiênico. Os guardas sorriam diante do que consideravam o passatempo inofensivo do prisioneiro 432. Não sabiam que aqueles poemas, aparentemente sobre flores e rios monçônicos, continham instruções codificadas para a resistência anticolonial. Assim operava a mente de Ho Chi Minh: transformando a fraqueza em arma, a arte em estratégia, o silêncio em discurso.

A Diplomacia do Bambu: flexível como um bambu, forte como o aço:
Quando declarou a independência do Vietnã em 2 de setembro de 1945 — citando textualmente a Declaração de Independência dos Estados Unidos —, Ho compreendeu que sua luta exigiria tanto balas quanto gestos calculados:
O Jogo com a França (1945-1954): aqui aplico a chamada “Armadilha da Cortesia”. Em 1946, assinou um acordo com Paris que reconhecia o Vietnã como “Estado livre” dentro da União Francesa. Sabia que os franceses violariam o acordo, dando-lhe pretexto para a guerra total. E, enviando a vitória de Dien Bien Phu como uma mensagem global: ao derrotar a França em 1954, não celebrou. Enviou seu general Giap para saudar os prisioneiros franceses: “Vocês não são nossos inimigos, mas vítimas de seus próprios governantes”.
A Arte de Manipular Gigantes (China vs. URSS): Mao Zedong e Khrushchov competiam para influenciar o Vietnã. Ho os usou — com muita inteligência — a ambos: aceitou armas soviéticas, mas rejeitou o envio de conselheiros russos que pudessem ofender a China. Permitiu que tropas chinesas operassem no norte, mas as confinou a áreas remotas. “É como montar tigres”, confessou a seu secretário. “Se você descer, eles o comem”.
A chamada Guerra dos Mil Gestos com os EUA: Antes que Johnson enviasse os fuzileiros navais, Ho fez três ofertas secretas de neutralidade: em 1954, propôs o estabelecimento de relações como as de EUA com a Iugoslávia (questão que foi rejeitada por Allen Dulles). Posteriormente, em 1967, ofereceu, através de intermediários franceses, retirar as tropas do Sul se os EUA parassem de bombardear (oferta que foi ignorada). Finalmente, em 1969, aceitou se reunir com Richard Nixon em Paris, mas exigiu o fim dos bombardeios primeiro (a CIA considerou isso como “chantagem”).

O Teatro da Guerra:
Durante a batalha de Dien Bien Phu em 1954, na Guerra da Indochina contra o Império Francês, enquanto o general francês Navarre estudava mapas topográficos em seu bunker, Ho Chi Minh acompanhava o desenvolvimento dos combates através de poemas que lhe eram enviados da linha de frente. Cada quarteto continha informações estratégicas disfarçadas de imagens bucólicas: “O rio Negro flui para o leste” significava que uma divisão havia cruzado determinado paralelo; “As orquídeas florescem na colina 27” indicava posições de artilharia.
Essa fusão da tradição literária com a guerra moderna confundiu durante anos os serviços de inteligência ocidentais. Um relatório da CIA de 1967 admitia com frustração: “O objetivo (Ho) conceitualiza o conflito em termos culturais que escapam às nossas análises”.
Uma incrível determinação o dominava. Em 1965, quando os primeiros fuzileiros navais americanos desembarcaram em Da Nang, Ho convocou seus generais para uma reunião incomum. Em vez de mapas militares, mostrou-lhes uma máscara do teatro tradicional tuồng. “Os franceses queriam nos transformar em atores de sua peça colonial. Agora os americanos vêm com seu roteiro de cowboys. Nós escreveremos o terceiro ato”.

Cartas que nunca foram enviadas:
Nos arquivos de Hanoi, preserva-se uma coleção de rascunhos de correspondências com Lyndon Johnson, redigidas, mas nunca enviadas. Nelas, Ho alternava entre a ironia mordaz e uma compaixão inesperada: “Você e eu, senhor Presidente, somos homens mais velhos que vimos morte demais. Realmente acredita que seus bombardeiros B-52 podem fazer o que os canhões franceses não conseguiram?” (Rascunho de janeiro de 1967)
“Se mandasse seus netos para jogar beisebol em Hanoi, prometo que meus compatriotas lhes ensinariam a rebater melhor” (Nota não datada).

O Homem Por Trás do Mito: o ascetismo como arma.
Enquanto Johnson vivia obcecado com pesquisas e Robert McNamara com estatísticas, Ho cultivava uma imagem deliberada:

  • Vivía em uma casa de madeira de dois quartos.
  • Rejeitou um carro oficial, preferindo uma bicicleta.
  • Em 1966, quando os bombardeios destruíam Hanoi, foi filmado passeando tranquilamente entre os escombros com seu bastão. “Um líder que não compartilha o sofrimento de seu povo é como uma árvore sem raízes”, escreveu em seu diário.

Nos últimos anos, quando a diabetes ofuscava sua visão e a asma o atacava com força, continuava recebendo camponeses em sua modesta residência. Oferecia chá e ouvia suas queixas com a atenção de um avô sábio. Os camponeses que chegavam com roupas encharcadas de orvalho encontravam um idoso de barba branca que lhes servia chá com mãos trêmulas, perguntando sobre o preço do arroz nas províncias distantes. Esta imagem deliberada — o líder revolucionário transformado em avô bondoso — ocultava as complexidades de um homem que havia sido muitas coisas antes do mito: poeta romântico, espião internacional, prisioneiro político e, sobretudo, um estrategista cuja compreensão do poder superava a de seus contemporâneos.
Na noite antes de morrer, em setembro de 1969, corrigiu pessoalmente o texto de um comunicado sobre as negociações de Paris. Suas últimas palavras escritas foram um aviso a seus sucessores: “Não confundam a firmeza com a teimosia”.

O Legado do Sussurrador:
Ho morreu em 1969, seis anos antes da vitória final. Mas sua estratégia diplomática continua sendo estudada:
Princípio do Poder do Pequeno: demonstrou que um país pobre pode vencer se transformar suas fraquezas em símbolos morais.
Princípio da Paciência Milenar: “Vocês podem ter relógios, mas nós temos tempo”, dizia a seus generais.
A Guerra como Teatro: cada bomba americana que caía sobre escolas era para ele “um telegrama gratuito para a opinião mundial”.

Hoje, no mausoléu de Hanoi, onde repousa seu corpo embalsamado (ironia final para um asceta), os visitantes veem inscrito seu testamento político: “Nada é mais precioso que a independência e a liberdade”. Foi sua única concessão ao monumento — o homem que derrotou impérios pediu que suas cinzas fossem espalhadas em colinas anônimas.
Nos últimos anos, enquanto os Estados Unidos lançavam mais bombas sobre o Vietnã do que todas as utilizadas na Segunda Guerra Mundial, Ho insistia em manter viva a tradição do Tet, o ano novo lunar. No auge dos bombardeios, aparecia distribuindo envelopes vermelhos com dinheiro para as crianças em abrigos subterrâneos. “Se deixarmos que nos roubem até a alegria, já nos venceram”, explicava.
Morreu justamente quando começavam as negociações de paz de Paris, como se seu corpo tivesse resistido o suficiente para ver o início do fim. Segundo seu médico pessoal, em seus últimos momentos pediu que queimassem todos os seus diários íntimos, exceto as páginas onde havia copiado poemas de Walt Whitman.

Seu verdadeiro legado pulsa nas ruas do Vietnã, onde os vendedores ambulantes ainda cantam as canções revolucionárias que ele compôs, e onde os camponeses continuam citando seus provérbios como se fossem sabedoria ancestral.
Ho Chi Minh demonstrou que a diplomacia mais eficaz, às vezes, se assemelha ao teatro Noh japonês: movimentos lentos, gestos calculados, e um silêncio que fala mais alto do que os discursos. Enquanto os impérios agiam com a sutileza de uma orquestra militar, ele travou sua guerra com a precisão de um poeta que sabe que cada palavra conta.
Ordenando seu legado, temos, de forma esquemática, as lições atemporais, sintetizadas em estratégia, simbolismo e resistência cultural.

O poder da identidade fluida:
Ho Chi Minh dominou a arte da metamorfose política como nenhum outro líder do século XX. Ao longo de sua vida, usou pelo menos 50 pseudônimos diferentes, cada um adaptado a circunstâncias específicas:

  • Nguyen Tat Thanh (Nguyen o que triunfará) durante seus anos como marinheiro
  • Ly Thuy quando trabalhou clandestinamente na China
  • Thau Chin durante sua fase como instrutor revolucionário na Tailândia

Essa capacidade de se reinventar não era simples tática de sobrevivência, mas uma profunda compreensão psicológica: “Para vencer o inimigo, primeiro você deve fazê-lo duvidar de sua verdadeira forma”, escreveu em 1948.

A Guerra como performance cultural:
Enquanto os generais americanos mediam o sucesso em toneladas de bombas lançadas, Ho transformava cada derrota militar em vitória propagandística:
Em 1965, quando as tropas americanas queimaram a aldeia de Cam Ne, Ho ordenou filmar crianças chorando entre as cinzas. As imagens deram a volta ao mundo antes que o Pentágono pudesse emitir seu comunicado oficial.
No Tet de 1968: embora a Ofensiva do Tet tenha sido um desastre militar, Ho compreendeu que seu valor simbólico mudaria a opinião pública global. “Perdemos 50.000 soldados, mas ganhamos a capa de todos os jornais”, confessou a Vo Nguyen Giap.

A diplomacia dos pequenos gestos:
Por trás do revolucionário de ferro existia um mestre dos detalhes humanos:
Entrega de presentes calculados: enviava chá de lótus cultivado em seu jardim para diplomatas estrangeiros, com bilhetes manuscritos citando Confúcio.
O aspecto da austeridade: rejeitou um uniforme militar novo por 15 anos, aparecendo sempre com o mesmo traje desgastado. “Minha roupa deve lembrar ao povo que seguimos em guerra”, explicava.

A arte de manipular os aliados:
Sua gestão da China e da URSS constitui um verdadeiro manual de realpolitik:
Em 1950, aceitou ajuda militar chinesa, mas colocou seus conselheiros longe da linha de frente, temendo que contaminassem sua independência política. Em 1965, quando os soviéticos ofereceram mísseis antiaéreos, aceitou — mas negou acesso aos seus manuais técnicos, mantendo o controle operacional.
“Grandes árvores dão boa sombra, mas suas raízes podem sufocar as plantas pequenas”, advertiu a seus generais sobre a dependência das potências comunistas.

A resistência como projeto cultural:
Ho transformou tradições ancestrais em armas políticas:
Revitalizou o Ca Dao, poesia popular vietnamita, para transmitir mensagens revolucionárias.
Adaptou o Teatro de Marionetes sobre Água para satirizar os colonialistas.
Criou escolas itinerantes onde se ensinava matemática calculando ângulos de tiro de morteiro.

Seus erros como advertência:
Mesmo seu legado tem sombras que ensinam:
A Reforma Agrária de 1954, inspirada no modelo maoísta, causou milhares de execuções injustas que depois lamentaria. Foi outro fracasso ao estilo maoísta.
Subestimou o fanatismo de seus camaradas jovens, que após sua morte abandonaram seu pragmatismo.
Seu sonho de reconciliação nacional foi truncado pela rigidez ideológica de seus sucessores.

Um epílogo para diplomatas e estrategistas modernos:
Ho Chi Minh ensinou que, na mesa de negociações, às vezes a carta mais forte é recusar-se a sentar. Quando Kissinger perguntou, anos depois, por que o Vietnã nunca cedeu, um veterano ministro sorriu: “Porque tio Ho aprendeu com vocês: a primeira linha da sua Declaração de Independência fala sobre perseverar”. A história tem senso de humor: o homem que citou Jefferson para desafiar Washington ganhou precisamente por entender melhor a alma americana do que seus próprios presidentes.

Hoje, no mausoléu de mármore que contradiz seu ascetismo em vida, os visitantes veem ao fim o triunfo final de sua estratégia. Aquele homem que começou como cozinheiro em um navio francês terminou humilhando três potências mundiais não com tanques, mas com paciência de séculos e a certeza moral de que, como escreveu em seu diário secreto, “contra o tempo e a vontade de um povo, nem os impérios mais poderosos podem prevalecer”.

Em seu testamento, Ho pediu para ser cremado e suas cinzas espalhadas em colinas anônimas. Sabia que seus sucessores não cumpririam esse desejo — precisavam do mausoléu como símbolo de unidade nacional. Foi sua jogada mestre final: ao pedir humildade, garantiu sua eternização como ícone.

O verdadeiro legado de Ho Chi Minh não está nas estátuas nem nos hinos, mas nessa lição simples e profunda: que na diplomacia como na vida, às vezes a força mais irresistível é a de quem sabe esperar, sorrindo em silêncio, enquanto seus inimigos se exaurem gritando.

Ho Chi Minh demonstrou que, na era dos mísseis intercontinentais, um poema bem escrito pode ser mais disruptivo do que um bombardeiro B-52. Seu verdadeiro gênio foi compreender que as guerras não são vencidas pelos exércitos com mais armamento, mas pelos povos com maior capacidade para sofrer — e transformar esse sofrimento em narrativa imbatível.

Hoje, quando os algoritmos governam a geopolítica, seu exemplo lembra uma verdade desconfortável: por mais sofisticados que sejam nossos sistemas de inteligência artificial, a vontade humana continua sendo a variável mais imprevisível — e poderosa — em qualquer equação política. Como ele mesmo escreveu em seu diário durante os bombardeios de Natal de 1972: “Eles têm computadores que calculam até o último grama de explosivos. Nós temos mães que choram por seus filhos. A história julgará qual força pesa mais”.

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